quinta-feira, 17 de outubro de 2013

28) No Caminho Do Amor (bela hitória! vale a pena lêr!)


No Caminho Do Amor
        Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólicos sorriso, e fixou-o estranhamente.
     Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva; colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
    
      - Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas... Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:
     -Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida.
     - E' que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso ... Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...

     Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:
     - Jovem, porque não respondes? Descobri em teus olhos diferentes chama e assim procedo,... por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende!... Atende!...
     Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou uma tanto agastada:
     -Não virás?
     Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:      - Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!...
     A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.

     Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento. O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
     Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemido angustioso.
    A disputada mercadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
     Fitou o Mestre e reconheceu-o. Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime, e atraente expressão. O Cristo estendeu-lhe os braços, tocados de intraduzível ternura e convidou:
     
     - Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
      A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.
     O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e conchegou-a, de manso...
     A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida:
     - Tu?... O Messias nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que viste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
     Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
     - Agora, venho satisfazer-te os apelos. E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
     - Descubro em teus olhos diferentes chama, e assim procedo,... por amar-te...

do livro Contos e Apólogos (Irmão X) Psicografia Francisco Cândido Xavier

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