segunda-feira, 23 de setembro de 2013

12) Eles... Viverão... (ótima história!)


23 - Eles... Viverão...
     Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo infamante.
     Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária, ei-lo posto em algemas, sob o sol causticante.
     Avançando ao pé do grande templo, na mesma praça enorme em que Estevão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a jornada.
     Tiago, brando e mudo, padece, escarnecido.

     Declaram-no embusteiro, malfeitor e ladrão.
     Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a veste.
     – “A morte! à morte!...”
     Centenas de vazes gritam inesperada condenação, e Pedro, que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se humilhado.
     O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.

     Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos, voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.
     Depois de algumas horas, veio a noite envolvente acalentar-lhe o pranto.
     De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu imenso, orando com fervor.
     Porque a tempestade? Porque a infâmia soez?
     O pobre amigo morto era justo e leal...
     Incapaz de banir a idéia de vingança, Pedro lembra os algozes em revolta suprema.
     Como desejaria ouvir o Mestre agora!... que diria Jesus do terrível sucesso?!...
     
     Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa que o Cristo lhe surge, doce, à frente.
     É o mesmo companheiro de semblante divino.
     Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:
     – Senhor! somos todos contados entre os vermes do mundo!... porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o nosso sangue verte em homicídio impune...
     A calúnia feroz espia-nos o passo...
     
     E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre aproximou-se e disse com carinho, a afagar-lhe os cabelos :
     – Esqueceste, Simão? Quem quiser vir a mim carregue a própria cruz...
     – Senhor! – retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido – não renego o madeiro, mas clamo contra os maus... 
     - Que fazer de Joreb, o falsário infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a
enriquecer-se? que castigo terá esse inimigo atroz da verdade divina?
     E Jesus respondeu, sereno, como outrora :
     – Jamais amaldiçoes... Joreb vai viver...

     – E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro laço, tramando-nos a perda?
     – Esqueçamo-la em prece, porque o pobre Amenab vai viver igualmente...
     E Joachib Ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará seus delitos?
     – Foge de condenar, Joachim vai viver...
     – E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?
     – Olvidemos Amós, porque Amós vai viver...
     – E Herodes, o rei vil, que nos condena a morte, fingindo ignorar que servimos a Deus?

     Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou simplesmente :
     – Repito-te, outra vez, que quem fere, ante a lei será também ferido... A quem pratica o mal, chega o horror do remorso... E o remorso voraz possui bastante fel para amargar a vida...
     Nunca te vingues, Pedro, porque os maus... viverão,... 
...e basta-lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos... 
     Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em seguida, para nova indagação...

     O Senhor, entretanto, já não mais ali estava.
     Na laje do chão só havia o silêncio que o luar renascente adornava de luz...


     Contos Desta e Doutra Vida (psicografia Chico Xavier )
(espírito Humberto de Campos)

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