segunda-feira, 2 de setembro de 2013

2) O Candidato Intelectual (ótima história!)

      
 O Candidato Intelectual

     Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Boa-Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.
     Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. 

     O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.
     O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou:
- A que escola filosófica obedecerá?
- A escola do céu respondeu complacente, o Divino Amigo.

     E outras perguntas choveram, improvisadas.
- Quem nos presidirá à organização?
- Nosso Pai Celestial.

- Em que base aceitará a dominação política dos romanos?
- Nas do respeito e do auxílio mútuos.

- Na hipótese de sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?
- Desculparemos a ignorância, quantas vezes for preciso.

- Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
- O direito de servir sem exigências.

O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:
- Em que consistirá desse modo, o salário do discípulo?
- Na alegria de praticar a bondade.

- Estaremos arregimentados num grande partido?
- Seremos, em todos os lugares, uma assembléia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.

- O programa?
- Permanecerá nos ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.

- Onde a voz imediata de comando?
- Na consciência.

- E os cofres mantenedores do movimento?
- Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem.

- Com quem contaremos de imediatos?
- Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.

- Quem reterá a melhor posição no ministério?
- Aquele que mais servir.

     O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:
- Que objetivo fundamental será o nosso?
  Respondeu Jesus, sem se irritar:
- O mundo regenerado, enobrecido e feliz.

- Quanto tempo gastará?
- O tempo necessário.

- De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?
- Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.

- Mas não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
- No Reino Divino não há violência.

- Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
- Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do número.

- A missão abrangerá quantos países?
- Todas as nações.

- Fará diferença entre senhores e escravos?
- Todos os homens são filhos de Deus.

- Em que sítio se levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
- No coração dos aprendizes.

- Os livros de apontamento estão prontos?
- Sim.

- Quais são?
- Nossas vidas...

     O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.
     Após longa série de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:
- Senhor, por que não esclareces?

     O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:
- Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.

     E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir por amor, sem perguntar.

do livro " Contos E Apólogos" Irmão X 
(psicografia: Francisco Cândido Xavier)


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