quarta-feira, 25 de setembro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

12) Eles... Viverão... (ótima história!)


23 - Eles... Viverão...
     Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo infamante.
     Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária, ei-lo posto em algemas, sob o sol causticante.
     Avançando ao pé do grande templo, na mesma praça enorme em que Estevão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a jornada.
     Tiago, brando e mudo, padece, escarnecido.

     Declaram-no embusteiro, malfeitor e ladrão.
     Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a veste.
     – “A morte! à morte!...”
     Centenas de vazes gritam inesperada condenação, e Pedro, que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se humilhado.
     O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.

     Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos, voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.
     Depois de algumas horas, veio a noite envolvente acalentar-lhe o pranto.
     De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu imenso, orando com fervor.
     Porque a tempestade? Porque a infâmia soez?
     O pobre amigo morto era justo e leal...
     Incapaz de banir a idéia de vingança, Pedro lembra os algozes em revolta suprema.
     Como desejaria ouvir o Mestre agora!... que diria Jesus do terrível sucesso?!...
     
     Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa que o Cristo lhe surge, doce, à frente.
     É o mesmo companheiro de semblante divino.
     Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:
     – Senhor! somos todos contados entre os vermes do mundo!... porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o nosso sangue verte em homicídio impune...
     A calúnia feroz espia-nos o passo...
     
     E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre aproximou-se e disse com carinho, a afagar-lhe os cabelos :
     – Esqueceste, Simão? Quem quiser vir a mim carregue a própria cruz...
     – Senhor! – retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido – não renego o madeiro, mas clamo contra os maus... 
     - Que fazer de Joreb, o falsário infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a
enriquecer-se? que castigo terá esse inimigo atroz da verdade divina?
     E Jesus respondeu, sereno, como outrora :
     – Jamais amaldiçoes... Joreb vai viver...

     – E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro laço, tramando-nos a perda?
     – Esqueçamo-la em prece, porque o pobre Amenab vai viver igualmente...
     E Joachib Ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará seus delitos?
     – Foge de condenar, Joachim vai viver...
     – E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?
     – Olvidemos Amós, porque Amós vai viver...
     – E Herodes, o rei vil, que nos condena a morte, fingindo ignorar que servimos a Deus?

     Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou simplesmente :
     – Repito-te, outra vez, que quem fere, ante a lei será também ferido... A quem pratica o mal, chega o horror do remorso... E o remorso voraz possui bastante fel para amargar a vida...
     Nunca te vingues, Pedro, porque os maus... viverão,... 
...e basta-lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos... 
     Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em seguida, para nova indagação...

     O Senhor, entretanto, já não mais ali estava.
     Na laje do chão só havia o silêncio que o luar renascente adornava de luz...


     Contos Desta e Doutra Vida (psicografia Chico Xavier )
(espírito Humberto de Campos)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

11) O Penteado (ótima história!!!)


O Penteado (ótima história!!!)
     
     - Porque há de você perder seu bom humor, torcendo seu cabelo nessa barafunda? - perguntou meu pai quando me encontrou chorando de raiva, porque eu era muito menina, e não tinha a habilidade necessária para fazer o penteado em moda nos meus tempos de colégio.

     - É a moda! - lamente-me. Só o meu nunca fica direito!
     Olhando-me gravemente, papai sugeriu:
     - Divida o cabelo ao meio, penteie-o para trás, e amarre-o com uma fita.
     Atendi-o, embora desajeitadamente. Ele acrescentou:
     - Agora use-o assim, durante uma semana, e, se metade das meninas de sua classe não copiarem você, dou-lhe cem Reais.

     Pensei comigo que ele era incrivelmente ingênuo. Cem reais,... entretanto, eram uma fortuna a que não podia resistir.
     Tivesse eu chegado à aula vestida com a camisola de dormir, minha agonia não teria sido maior. Mas, quando a semana acabou, quase todas as meninas de minha classe estavam usando o cabelo separado pelo meio, atado atrás com uma fita!

     Quando narrei o sucedido a meu pai, ele comentou:
     - Nunca tenha medo de uma idéia própria, e, se ela for certa, siga para diante, sem se importar com o que faça toda a gente.
     E, embora tivesse ganho a aposta, deu-me os cem reais.
     Papai nunca poderia imaginar o quanto essa lição, tão simples reforçou a minha personalidade, e auxiliou-me, principalmente em situações em que, como sempre acontece,...
a  p r e s s ã o   d o s   g r u p o s... ameaça anular-nos, e nos converter em simples robôs.

do livro "E Para o Resto Da Vida" Wallace Leal V. Rodrigues

10) Dois Senhores (Leia... vale a pena...)


     12. Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais... e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. 
     
     Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. 

     Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes!      Por cúmulo de cegueira, freqüentemente se encontram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de
sacrifício e de mérito - como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas!

     Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? 

     Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística.
     Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tão animado e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. 
     - Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou? 
                                     Um Espírito Protetor. (Cracóvia, l861.)

(do "Evangelhgo Segundo O Espiritismo - Capítulo XVI - ítem 12)
Não Se Pode Servir A Deus E A Mamon

09) SIT - Nova Doença Social?...


SIT - Nova Doença Social?...
     Numa breve viagem efetuada em serviço profissional, não pude deixar de constatar o mundo que me rodeia, desde o embarque no avião, a viagem, o desembarque, enfim, as múltiplas ações e reações das pessoas na sua interação social.
     Confesso que fiquei preocupado ao aperceber-me de uma nova doença que afeta a sociedade ocidental: chama-se SIT.

     Curiosamente, ao ler "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, verdadeira pérola da literatura mundial, onde está confinada a parte filosófica da Doutrina Espírita (que não é mais uma religião nem mais uma seita, mas sim ciência, filosofia e moral), no seu capítulo VII, intitulado "Lei de Sociedade", podemos encontrar questões interessantes: 

      766. A vida social está na Natureza?
     -  “Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.” 

      767. É contrário à lei da Natureza o isolamento absoluto?
      - “Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.” 

      768. Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral?
     - “O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.”
     “Homem nenhum possui faculdades completas. 

     Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não isolados."

     O ser humano, estimulando a sua inteligência, vai criando e modificando a matéria e o mundo material, tornando-o mais agradável para a sua vida no quotidiano, que, por sua vez, se torna mais confortável e mais feliz. 

      “O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.” (Allan Kardec)
  
     Vemos, ao longo destes últimos 100 anos, um incremento fantástico ao nível tecnológico, contribuindo sobremaneira para uma maior e melhor qualidade de vida do ser humano. Curiosamente, esta tecnologia, ao invés de contribuir para uma partilha saudável de vivências entre os seres humanos, tem contribuído para um uso desajustado, levando-o ao isolamento.
     Paradoxalmente, nestes tempos que deveriam ser de alegria, face ao incremento da tecnologia, a sociedade sofre de grave doença mortal, a solidão, mesmo quando rodeados de uma imensidão de pessoas 

     Naquele avião potente, com 200 pessoas a bordo, meditava fascinado no avanço da tecnologia, naquele grande pássaro de ferro rasgando o ar, tranquilamente, e verificava com alguma tristeza que, naquela hora e meia de viagem, as 200 pessoas iam, cada uma delas, imersas no seu mundo (com auriculares ouvindo música ou outra coisa qualquer, com computadores trabalhando ou jogando, agarrados interminavelmente aos seus telemóveis e/ou agendas eletrônicas, dormindo ou descansando de olhos fechados), ao invés de aproveitarem o tempo para conversarem, fazer novos conhecimentos, trocar ideias, partilhar opiniões, enfim, sociabilizarem-se.

     Foi aí que me apercebi da grave doença, que se vai instalando silenciosamente, que nos afeta nos dias de hoje: a "SIT" (Solidão, Isolamento e Tecnologia).

     Se as novas tecnologias são uma bênção para a humanidade, o seu uso deve ser efetuado com parcimônia, de modo a que o rumo orientador de sociabilização apontado em "O Livro dos Espíritos", nos itens acima referidos, não venha a ser posto em causa por este flagelo que associa a tecnologia ao isolamento e à solidão do ser humano.

José Lucas                - Óbidos, Portugal.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

8) O Anjo Cinzento (Leia... vale a pena...)



          O Anjo Cinzento
     Para que o Homem adquirisse confiança em Sua Bondade Infinita, determinou o Senhor que vários Anjos o amparassem na Terra, amorosamente...
     Em razão disso, quando mal saía do berço, aproximou-se dele um Anjo Lirial que, aproveitando os lábios daquela que se lhe constituíra em mãezinha adorável, lhe ensinou a repetir:
     - Deus...Pai do Céu... Papai do Céu...
     Era o Anjo da Pureza.

     Mais tarde, soletrando o alfabeto, entre as paredes da escola, acercou-se dele um Anjo de Luz Verde que, por intermédio da professora, o ajudou a pronunciar em voz firme:
     - Deus, Nosso Pai Celestial, é o Criador de todos os seres e de todas as coisas...
     Era o Anjo da Esperança.

     Alongaram-se-lhe os dias, até que penetrou em uma casa de ensino superior, sob cujo teto venerável foi visitado por um Anjo de Luz de Ouro, que, através de educadores eméritos, lhe falou acerca da glória e da magnificência do Eterno, utilizando a linguagem da filosofia e da ciência.
     Era o Anjo da Sabedoria.

     O Homem compulsou livros e consultou autoridades, desejando a comunhão mais direta com o Senhor, fazendo-se caprichoso e exigente.
     Olvidando o direito dos semelhantes, propunha-se conquistar as atenções de Deus tão somente para si. A Majestade Divina, a seu parecer, devia inclinar-se aos petitórios, atendendo-lhe as desarrazoadas solicitações, sem mais nem menos; e, porque o Criador não se revelasse disposto a personalizar-se para satisfazê-lo, começou a cultivar o espinheiro da negação e da dúvida.

     Por mais insistisse o Anjo Dourado, rogando-lhe reverenciar o Senhor, acatando-lhe as leis e os desígnios, mais se mergulhava na hesitação e na indiferença.
     Atormentado, procurou um templo religioso, onde um Anjo Azul o socorreu, valendo-se de um sacerdote para recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com a retidão da consciência e com a perseverança no bem.
     Era o Anjo da Fé.

     O Homem registrou-lhe os avisos, mas, sentindo enorme dificuldade para render-se aos exercícios da virtude, clamava intimamente: 
     - “Deus? Mas existirá Deus realmente? Por que razão não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?”
     Freqüentando o templo para não ferir as convenções sociais, foi auxiliado por um Anjo Róseo que lhe conduziu a inteligência à leitura de livros santos, comovendo-lhe o coração e conduzindo-lhe o sentimento à prática do amor e da renúncia, da benevolência e do sacrifício, de maneira a abreviar o caminho para o Divino Encontro.
     Era o Anjo da Caridade.

     O teimoso estudante aprendeu que não lhe seria lícito aguardar as alegrias do Céu, sem havê-las merecido pela própria sublimação na Terra.
     Ainda assim, monologava indisciplinado:
     - Se sou filho de Deus e se Deus existe, não justifico tanta formalidade para encontrá-lo...” e prosseguia surdo aos orientadores angélicos.
     Casou-se, constituiu família, amealhou dinheiro e garantiu-se contra as vicissitudes da sorte; entretanto, por mais se esforçassem os Anjos da Caridade e da Sabedoria, da Esperança e da Fé, no sentido de favorecer-lhe a comunhão com o Céu, mais repudiava os generosos conselheiros, exclamando de si para consigo: 
     - “Deus? Mas existirá efetivamente Deus?”
     
     Enrugando-se-lhe o rosto e encanecendo-se-lhe a cabeça orgulhosa, reuniram-se os gênios amigos, suplicando a compaixão do Senhor, a benefício do rebelde tutelado.
     Foi quando desceu da Glória Celeste um Anjo Cinzento, de semblante triste e discreto.
     Não tomou instrumentos para comunicar-se.
     Ele próprio abeirou-se do revoltado filho do Altíssimo, abraçou-o e     
     assoprou-lhe ao coração a mensagem que trazia...
     Sentindo-lhe a presença, o Homem cambaleou, deitou-se e começou a reconhecer a precariedade dos bens do mundo... 
     Notou quão transitória era a posse dos patrimônios terrestres, dos quais não passava de usufrutuário egoísta... 
     Observou que a sua felicidade passageira era simples sombra a esvair-se no tempo... E, assinalando sofrimento e desequilíbrio no âmago de si mesmo, compreendeu que tudo que desfrutava na vida era empréstimo divino da
Eterna Bondade...

     Meditou... Meditou... reconsiderando as atitudes que lhe eram peculiares e, em lágrimas de sincera e profunda compulsão, qual se fora tenro menino, dirigiu-se pela primeira vez, com toda a alma, ao Todo Poderoso, suplicando:
     - Deus de Infinita Misericórdia, meu Criador e meu Pai, compadece-te de mim!...
     
     O Anjo Cinzento era o Anjo da Enfermidade.

(do livro "Contos Desta e Doutra Vida" (psicografia Chico Xavier - espírito Humberto de Campos)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

07 - Consciência Espírita (ótima lição)


Consciência Espírita (ótima lição)
(do livro Cartas e Crônicas - Irmão X 
 psicografia Francisco Cândido Xavier)

     Diz você que não compreende o motivo de tanta autocensura nas comunicações dos espíritas desencarnados. Fulano, que deixou a melhor ficha de serviço, volta a escrever, declarando que não agiu entre os homens como deveria; sicrano, conhecido por elevado padrão de virtudes, regressa, por vários médiuns, a lastimar o tempo perdido... E você acentua, depois de interessantes apontamentos:
     - “Tem-se a impressão de que os nossos confrades tornam, do Além, atormentados por terríveis complexos de culpa. Como explicar o fenômeno?” 

     Creia, meu caro, que nutro pessoalmente pelos espíritas a mais enternecida admiração. 
     Infatigáveis construtores do progresso, obreiros do Cristianismo Redivivo.      Tanta liberdade, porém, receberam para a interpretação dos ensinamentos de Jesus que, sinceramente, não conheço neste mundo pessoas de fé mais favorecidos de raciocínio, ante os problemas da vida e do Universo. 

     Carregando largos cabedais de conhecimento, é justo guardem eles a 
preocupação de realizar muito e sempre mais, a favor de tantos irmãos da Terra, detidos por ilusões e inibições no capítulo da crença. 

     Conta-se que Allan Kardec, quando reunia os textos de que nasceria “O Livro dos Espíritos”, recolheu-se ao leito, certa noite, impressionado com um sonho de Lutero, de que tomara notícias. O grande reformador, em seu tempo, acalentava a convicção de haver estado no paraíso, colhendo informes em torno da felicidade celestial. 

     Comovido, o codificador da Doutrina Espírita, durante o repouso, viu-se também fora do corpo, em singular desdobramento... Junto dele, identificou um enviado de Planos Sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região, onde gemiam milhares de entidades em sofrimento estarrecedor. Soluços de aflição casavam-se a gritos de cólera, blasfêmias seguiam-se a gargalhadas de loucura. 

     Atônito, Kardec lembrou os tiranos da História e inquiriu, espantado: 

     - Jazem aqui os crucificadores de Jesus? 
     - Nenhum deles – informou o guia solícito. – Conquanto responsáveis, desconheciam, na essência, o mal que praticavam. O próprio Mestre auxiliou-os a se desembaraçarem do remorso, conseguindo-lhes abençoadas reencarnações, em que se resgataram perante a Lei. 

     - E os imperadores romanos? Decerto, padecerão nestes sítios aqueles mesmos suplícios que impuseram à Humanidade... 
     - Nada disso. Homens da categoria de Tibério ou Calígula não possuíam a mínima noção de espiritualidade. Alguns deles, depois de estágios 
regenerativos na Terra, já se elevaram a esferas superiores, enquanto que outros se demoram, até hoje, internados no campo físico, à beira da remissão. 

     - Acaso, andarão presos nestes vales sombrios – tornou o visitante – os algozes dos cristãos, nos séculos primitivos do Evangelho? 
     - De nenhum modo – replicou o lúcido acompanhante -, os carrascos dos seguidores de Jesus, nos dias apostólicos, eram homens e mulheres quase selvagens, apesar das tintas de civilização que ostentavam... Todos foram encaminhados à reencarnação, para adquirirem instrução e entendimento.

     O codificador do Espiritismo pensou nos conquistadores da Antiguidade, Átila, Aníbal, Alarico I, Gengis Khan... Antes, todavia, que enunciasse nova pergunta, o mensageiro acrescentou, respondendo-lhe à consulta mental: 
     - Não vagueiam, por aqui, os guerreiros que recordas... Eles nada saiam das realidades do espírito e, por isso, recolheram piedoso amparo, dirigidos para o renascimento carnal, entrando em lides expiatórias, conforme os débitos contraídos... 

     - Então, dize-me – rogou Kardec, emocionado -, que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações me cortam a alma? 
     E o orientador esclareceu, imperturbável: 

     - Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educado quanto aos imperativos do Bem e da Verdade, e que fugiram deliberadamente da Verdade e do Bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal, por livre vontade... Para eles, um novo berço na Terra é sempre mais difícil... 

     Chocado com a inesperada observação, Kardec regressou ao corpo e, de imediato, levantou-se e escreveu a pergunta que apresentaria, na noite próxima, ao exame dos mentores da obra em andamento e que figura como sendo a Questão número 642, de “O Livro dos Espíritos”: 
     
     - “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?”, indagação esta a que os instrutores retorquiram: 
     - “Não; cumpre-lhe fazer o bem, no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” 

     Segundo é fácil de perceber, meu amigo, com princípios tão claros e tão lógicos, é natural que a consciência espírita, situada em confronto com as idéias dominantes nas religiões da maioria, seja muito diferente. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

6) A Felicidade Não É Deste Mundo (ótimo-vale a pena lêr!)



     20. Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: 

     - "A felicidade não é deste mundo." 
     Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.

     Diante de tal fato, é incontestável que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações.

     Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.

     Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
     O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.

     Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há, mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

     Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos.        Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os
Espíritos vos revelaram.
     Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. 
     Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso
objetivo de preparar para as gerações porvindouras um mundo... onde já não seja vã a palavra felicidade. 
        - François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
    
do livro “Evangelho Segundo O Espiritismo” capítulo V, item 20



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

4) Nos Domínios Da Sombra (ótima história)


Nos Domínios Da Sombra (ótima história)

     Em compacta assembléia do reino das sombras, um poderoso soberano das trevas, diante de milhares de falangistas da miséria e da ignorância, explicava o motivo da grande reunião.
     O Espiritismo com Jesus, aclarando a mente humana, prejudicava os planos infernais.
     Em toda parte da Terra, as criaturas começavam a raciocinar menos superficialmente!
     Indagavam, com segurança, quanto aos enigmas do sofrimento e da morte e aprendiam, sem maior dificuldade, as lições da Justiça Divina.      

     Compreendiam, sem cadeias dogmáticas, os ensinamentos do Evangelho. Oravam com fervor. Meditavam na reencarnação e passavam a interpretar com mais inteligência os deveres que lhes cabiam no Planeta.
     Muita gente entregava-se aos livros nobres, à caridade e à compaixão, iluminando a paisagem social do mundo e, por isso, todas as atividades da sombra surgiam ameaçadas...

     Que fazer para conjurar o perigo?
     E pediu para que os seus assessores apresentassem sugestões.
     Depois de alguns momentos de expectativa, ergueu-se o comandante das legiões da incredulidade e falou:
     - Procuremos veicular a crença de que Deus não existe e de que as criaturas viventes estão entregues a forças cruéis e fatais da Natureza...
     O maioral das trevas, porém, objetou, desencantado:
     - O argumento não serve. Quanto mais avançamos nos trilhos da inteligência mais reconhece o homem a Paternidade de Deus, sendo atraído inelutavelmente para a fé ardente e pura.

     Levantou-se, no entanto, o orientador das legiões da vaidade e opinou:
     - Espalharemos a notícia de que Jesus nada tem que ver com o Espiritismo, que as manifestações dos desencarnados se resumem num caso fisiológico para as conclusões da Ciência, e, desnorteando os profitentes da Renovadora Doutrina, faremos com que gozem a vida no mundo, como melhor lhes pareça, sem qualquer obrigação para com o Evangelho e, assim, serão colhidos no túmulo, com as mesmas lacunas morais que trouxeram do berço.
     
     O rei das sombras anuiu, complacente:
     - Sim, essa ilusão já foi muito importante, contudo, há milhares de pessoas despertando para a verdade, na certeza de que as portas do sepulcro não se abririam para os vivos da Terra, sem a intervenção de Jesus.
     Nesse ponto, o diretor das falanges da discórdia pôs-se de pé e conclamou:
     - Sabemos que a força dos espíritas nasce das reuniões em que se congregam para a oração e para o aprendizado da Vida Espiritual, e nas quais tomam contacto com os Mensageiros da Luz... Assim sendo, assopraremos acizânia entre os seguidores dessa bandeira transformadora, exagerando-lhes a noção da dignidade própria. 
     
     Separá-los-emos uns dos outros com o invisível bastão da maledicência. Chamaremos em nosso auxílio os polemistas, os discutidores, os carregadores de lixo social, os fiscais do próximo e os examinadores de consciências alheias para que os seus templos se povoem de feridas e mágoas incuráveis e, assim, os irmãos em Cristo saberão detestar-se uns aos outros, com
sorrisos nos lábios, inutilizando-se para as obras do bem.

     O chefe satânico, todavia, considerou:
     - Isso é medida louvável, contudo necessitamos de providência de efeito mais profundo, porque sempre aparece um dia em que as brigas e os desacordos terminam com os remédios da humildade e com o socorro da oração.
     A essa altura, ergueu-se o condutor das falanges da desordem e ponderou:
     - Se o problema é de reuniões, conseguiremos liquidá-lo em três tempos. Buscaremos sugerir aos membros dessas instituições que o lugar dos conclaves é muito longe e que não lhes convém afrontar as surpresas desagradáveis da via pública. Faremos que o horário das reuniões coincida com o lançamento de filmes especiais ou com festividades domésticas de
data fixa. Improvisaremos tentações determinadas para os companheiros que possuam maiores deveres e responsabilidades junto às assembléias, a fim de que os iniciantes não venham a perseverar no trabalho da própria elevação. 

     Organizaremos dificuldades para as conduções e atrairemos visitas afetuosas que cheguem no momento exato da saída para os cultos espiritas-cristãos. Tumultuaremos o ambiente nos lares, escondendo chapéus e
bolsas, carteiras e chaves para que os crentes se tomem de mau humor, desistindo do serviço espiritual e desacreditando a própria fé.
     O soberano das .trevas mostrou larga satisfação no semblante e ajuntou:
     - Sim, isso é precioso trabalho de rotina que não podemos menosprezar. Entretanto, carecemos de recurso diferente. . .

     O responsável pelas falanges da dúvida ergueu-se e disse:
     - As reuniões referidas são sempre mais valiosas com o auxílio de médiuns competentes.
     Buscaremos desalentá-los e dispersá-los, penetrando a onda mental em que se comunicam com os Benfeitores Celestes, fazendo-lhes crer que a palavra do Além resulta de um engano deles próprios, obrigando-os a se sentirem mentirosos, palhaços, embusteiros e mistificadores, sem qualquer confiança em si mesmos, para que as assembléias se vejam incapazes e desmoralizadas...

     O mentor do recinto aprovou a alegação, mas considerou:
     - Indiscutivelmente, o combate aos médiuns não pode esmorecer, entretanto, precisamos de providência mais viva, mais penetrante...
     Foi então que o orientador das falanges da preguiça se levantou, tomou a palavra, e falou respeitoso:
     - Ilustre chefe, creio que a melhor medida será recordar ao pensamento de todos os membros das agremiações espíritas que Deus existe, que Jesus é o Guia da Humanidade, que a alma é imortal, que a Justiça Divina é indefectível, que a reencarnação é uma verdade inconteste e que a oração é uma escada solar, reunindo a Terra ao Céu...
     
     O soberano das sombras, porém, entre o espanto e a ira, cortou-lhe a palavra, exclamando:
     - Onde pretende chegar com semelhantes afirmações?
     O comandante dos exércitos preguiçosos acrescentou, sem perturbar-se:
     - Sim, diremos que o Espiritismo com Jesus, pedindo às almas encarnadas para que se regenerem, buscando o conhecimento superior e servindo à caridade, é, de fato, o roteiro da luz,... 

...mas que há tempo bastante para a redenção, que ninguém precisa incomodar-se, que as realizações edificantes não efetuadas numa existência podem ser atendidas em outras, que tudo deve permanecer agora como está no íntimo de cada criatura na carne, para vermos como ficarão depois da morte, que a liberalidade do Senhor é incomensurável e que todos os serviços e reformas da consciência, marcados para hoje, podem ser transferidos para amanhã... 
     
     ...Desse modo, tanto vale viverem no Espiritismo como fora dele, com fé ou sem fé, porque o salário de inutilidade será sempre o mesmo...
     O rei das sombras sorriu, feliz, e concordou:
     - Oh! até que enfim descobrimos a solução!...
     De todos os lados ouviam-se risonhas exclamações: 
     - Bravos! Muito bem! Muito bem!
     O argumento do astucioso condutor das falanges da inércia e da preguiça havia vencido.

do livro: Contos E Apológos
pelo espírito Irmão X – (psicografia: Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

3) Coragem (ótima mensagem)


           Coragem


Dentre os flagelos que afligem com mais constancia, e mais de perto, as criaturas humanas, destaca-se, sem dúvida, o fantasma inquietador do medo.

Teme-se as enfermidades, a fome, a miséria, o desapreço, a solidão e a morte.
Na tentativa de defender-se contra tais ameaças, a maioria das pessoas empreende uma corrida alucinada em busca de talismãs que delas as previnam, imaginando encontrá-los na proteção do dinheiro, nas regalias do poder, nos títulos honoríficos, ou no domínio exclusivista dos afetos.

Ante o fracasso dessas medidas preventivas, incapazes de evitar ou vencer as dores inafastáveis da senda evolutiva, quase todos acabam por entregar-se aos braços inconfiáveis da negação ou aos desvarios do desespero, na revolta inútil.

Contra semelhantes prejuízos, o Divino Mestre recomendou insistentemente aos seus apóstolos o remédio invencível da , na confiança filial absoluta em nosso Pai Celeste, mesmo porque as dores do caminho humano, em sua inafastabilidade, são sempre transitórias e necessárias ao progresso dos Espiritos, na jornada para os cimos da vida imortal.

Se as multidões terrestres, ainda inscientes das grandes realidades espirituais da existência, vivem temerosas e assustadiças, entre desenganos e inconformações, os verdadeiros discípulos de Jesus encontram na sua fé as forças precisas para trabalhar e servir, em todas as circunstâncias, perdoando e amando os seus semelhantes, invariavelmente dispostos à renúncia pessoal e ao próprio sacrifício em favor de todos.

O certo é que a fé profunda e sincera na Providência Divina infunde na alma humilde e crente, uma coragem... que o mundo não conhece.
                                                                            Janael

Do livro “Amar e Servir” Hernani T. Sant’anna

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

2) O Candidato Intelectual (ótima história!)

      
 O Candidato Intelectual

     Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Boa-Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.
     Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. 

     O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.
     O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou:
- A que escola filosófica obedecerá?
- A escola do céu respondeu complacente, o Divino Amigo.

     E outras perguntas choveram, improvisadas.
- Quem nos presidirá à organização?
- Nosso Pai Celestial.

- Em que base aceitará a dominação política dos romanos?
- Nas do respeito e do auxílio mútuos.

- Na hipótese de sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?
- Desculparemos a ignorância, quantas vezes for preciso.

- Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
- O direito de servir sem exigências.

O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:
- Em que consistirá desse modo, o salário do discípulo?
- Na alegria de praticar a bondade.

- Estaremos arregimentados num grande partido?
- Seremos, em todos os lugares, uma assembléia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.

- O programa?
- Permanecerá nos ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.

- Onde a voz imediata de comando?
- Na consciência.

- E os cofres mantenedores do movimento?
- Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem.

- Com quem contaremos de imediatos?
- Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.

- Quem reterá a melhor posição no ministério?
- Aquele que mais servir.

     O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:
- Que objetivo fundamental será o nosso?
  Respondeu Jesus, sem se irritar:
- O mundo regenerado, enobrecido e feliz.

- Quanto tempo gastará?
- O tempo necessário.

- De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?
- Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.

- Mas não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
- No Reino Divino não há violência.

- Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
- Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do número.

- A missão abrangerá quantos países?
- Todas as nações.

- Fará diferença entre senhores e escravos?
- Todos os homens são filhos de Deus.

- Em que sítio se levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
- No coração dos aprendizes.

- Os livros de apontamento estão prontos?
- Sim.

- Quais são?
- Nossas vidas...

     O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.
     Após longa série de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:
- Senhor, por que não esclareces?

     O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:
- Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.

     E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir por amor, sem perguntar.

do livro " Contos E Apólogos" Irmão X 
(psicografia: Francisco Cândido Xavier)


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