quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

83) O ENCONTRO DIVINO (linda história!!!)


21 - O  ENCONTRO  DIVINO

           Quando o cavaleiro D'Arsonval, valoroso senhor em França, se ausentou do medievo domicílio, pela primeira vez, de armadura fulgindo ao Sol, dirigia-se à Itália para solver urgente questão política.   
        Eminente cristão, trazia consigo um propósito central - servir ao Senhor, fielmente, para encontrá-lo.   
        Não longe de suas portas, viu surgir, de inesperado, ulceroso mendigo a estender-lhe as mãos descarnadas e súplices.   
     Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?   Preocupava-o serviço importante, em demasia, e, sem se dignar fixá-lo, atirou-lhe a bolsa farta.   

        O nobre cavaleiro tornou ao lar e, mais tarde, menos afortunado nos negócios, deixou, d& novo, a casa.   Demandava a Espanha, em missão de prelados amigos, aos quais se devotara.   
        No mesmo lugar, postava-se, o infortunado pedinte, com os braços em rogativa.  O fidalgo, intrigado, revolveu grande saco de viagem e dele retirou pequeno brilhante, arremessando-o ao triste caminheiro que parecia devorá-lo com o olhar.   

        Não se passou muito tempo e o castelão, menos feliz no círculo das finanças, necessitou viajar para a Inglaterra, onde pretendia solucionar vários problemas, alusivos à organização doméstica.   
        No mesmo trato de solo, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha petição se ergue no ar.   O cavaleiro arranca do chapéu estimada jóia de subido valor e projeta-a sobre o conhecido romeiro, orgulhosamente. 

       Decorridos alguns meses, o patrão feudal se movimenta na direção de porto distante, em busca de precioso empréstimo, destinado à própria economia, ameaçada de colapso fatal, e, no mesmo sitio, com rigorosa precisão, é interpelado pelo mendigo, cujas mãos, em chagaberta, se voltam ansiosas para ele.
        D'Arsonval, extremamente dedicado à caridade, não hesita. Despe fino manto e entrega-o, de longe, receando-lhe o contacto.   Depois de um ano, premido por questões de imediato interesse, vai a Paris invocar o socorro de autoridades e, sem qualquer alteração, é defrontado pelo mesmo lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a antiga súplica.   

        O Castelão atira-lhe um gorro de alto preço, sem qualquer pausa no galope, em que seguia, presto.   Sucedem-se os dias e o nobre senhor, num ato de fé, abandona a respeitada residência, com séqüito festivo.   
        Representará os seus, junto à expedição de Godofredo de Bonillon, na cruzada com que se pretende libertar os Lugares Santos.   No mesmo ângulo da estrada, era aguardado pelo mendigo, que lhe reitera a solicitação em voz mais triste.   
        O ilustre viajor dá-lhe, então, rico farnel, sem oferecer-lhe a mínima atenção.   

        E, na Palestina, D'Arsonval combateu valorosamente, caindo, ferido, em poder dos adversários.   Torturado, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio, padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que, um dia, homem convertido em fantasma, torna ao lar que não o reconhece.            
        Propalada a falsa notícia de sua morte, a esposa deu-se pressa em substituí-lo, à frente da casa, e seus filhos, revoltados, soltaram cães agressivos que o dilaceraram, cruelmente, sem comiseração para com o pranto que lhe escorria dos olhos semimortos.   

        Procurando velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.   Interpretado, agora, à conta de louco, o ex-fidalgo, em sombrio crepúsculo, ausentou-se, em definitivo, a passos vacilantes...  
        Seguir para onde? O mundo era pequeno demais para conter-lhe a dor.   Avançava, penosamente, quando encontrou o mendigo.   

        Relembrou a passada grandeza e atentou para ai mesmo, qual se buscasse alguma coisa para dar.   Contemplou o infeliz pela primeira vez e, cruzando com ele o olhar angustiado, sentiu que aquele homem, chagado e sozinho, devia ser seu irmão. 

        Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar-lhe o calor do próprio sangue. Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro que considerava leproso, dele ouviu as sublimes palavras:

      - D'Arsonval, vem a mim! Eu sou Jesus, teu amigo. Quem me procura no serviço ao próximo, mais cedo me encontra... 
       Enquanto me buscava à distância, eu te aguardava, aqui tão perto! Agradeço o ouro, as jóias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, más há muitos anos te estendia os meus braços, esperando o teu próprio coração!.. .   

        O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz, entre a Terra e o Céu... Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam às lides do campo, sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado caminho com um cadáver.   
        D'Arsonval estava morto.  

 do livro  CONTOS E APÓLOGOS   
PELO ESPÍRITO IRMÃO X
psicografia de FRANCISCO CANDIDO XAVIER

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