quinta-feira, 31 de outubro de 2013

36) A Meada (ótima história!)


A  Meada (ótima história!)

     A conversação entre as duas jovens senhoras se desenvolvia no ônibus.
     - Você não pode imaginar o meu amor por ele...
     - Não posso concordar com você.
     - Decerto que não me entende.
     - Mas, Dulce, você chega a querer o Dionísio, tanto quanto ao marido?
     - Não tanto, mas não consigo passar sem os dois.
     - Meu Deus! Isso é coisa de casal sem filhos!...
     - É possível...
     - Você não acha isso estranho, inadmissível?
     - Acho natural.
     - Noto você demasiadamente apegada, não é justo...
     - Sei que você não me compreende...
     - Simplesmente não concordo.
     - Mas Dionísio...
     - Isso é uma psicose...

     Dona Dulce e a amiga, no entanto, ignoravam que Dona Lequinha, vizinha de ambas, sentara-se perto e estava de ouvido atento, sem perder palavra.
     De parada em parada, cada uma volveu ao lar suburbano, mas Dona Lequinha, ao chegar em casa, começou a fantasiar... 
      Bem que notara Dona Dulce acompanhada por um moço ao tomar o elétrico, aliás, pessoa de cativante presença. Recordava-lhe as palavras derradeiras: “vá tranqüila, amanhã telefonarei...”

     Cabeça quente, vasculhando novidades no ar, aguardou o esposo, colega de serviço do marido de Dona Dulce, e tão logo à mesa, a sós com ele para o jantar, surgiu novo diálogo:
     - Você não imagina o que vi hoje...
     - Diga, mulher...
     - Dona Dulce, calcule você!... Dona Dulce, que sempre nos pareceu uma santa, está de aventuras...
     - O quê?!...
     - Vi com meus olhos... Um rapazão a seguia mostrando gestos de apaixonado e, por fim, no ônibus, ela própria se confessou a Dona Cecília...          Chegou a dizer que não consegue viver sem o marido e sem o outro... Uma calamidade!...
     - Ah! mas isso não fica assim, não! Júlio é meu colega e Júlio vai saber!...

     A conversa transitou através de comentários escusos e, no dia imediato, pela manhã, na oficina, o amigo ouve do amigo o desabafo em tom sigiloso:
     - Júlio, você me entende... somos companheiros e não posso enganá-lo... O que vou dizer representa um sacrifício para mim, mas falo para seu bem... Seu nome é limpo demais para ser desrespeitado, como estou vendo... Não posso ficar calado por mais tempo... Sua mulher...
     E o esposo escutou a denúncia, longamente cochichada, qual se lhe enternassem afiada lâmina no peito.
     Agradeceu, pálido...

     Em seguida, pediu licença ao chefe para ir a casa, alegando um pretexto qualquer. No fundo, porém, ansiava por um entendimento com a esposa, aconselhá-la, saber o que havia de certo.
     Deixou o serviço, no rumo do lar e, aí chegando, penetrou a sala, agoniado...
     Estacou, de improviso.
     A companheira falava, despreocupamente, ao telefone, no quarto de dormir:
     - “Ah! sim!...”, “Não há problema”, “Hoje mesmo”. “Às três horas”... “Meu marido não pode saber...”.

     Júlio retrocedeu, à maneira de cão espancado. Sob enorme excitação, tornou à rua. Logo após, notificou na oficina que se achava doente e pretendia medicar-se. Retornou a casa e tentou o almoço, em companhia da mulher que, em vão, procurou fazê-lo sorrir.
     Acabrunhado, voltou a perambular pelas vias públicas e, poucos minutos depois das três da tarde, entrou sutilmente no lar... 
     Aflito, mentalmente descontrolado, entreabriu devagarinho a porta do quarto e viu, agora positivamente aterrado, um rapaz em mangas de camisa, a inclinar-se sobre o seu próprio leito. De imaginação envenenada, concebeu a pior interpretação...
     O pobre operário recuou em delírio e, à noite, foi encontrado morto num pequeno galpão dos fundos. Enforcara-se em desespero...

     Só então, ao choro de Dona Dulce, o mexerico foi destrinçado.
     Dionísio era apenas o belo gatinho angorá, que a desolada senhora criava com estimação imensa.
     O moço que a seguira até o ônibus era o veterinário, a cujos cuidados profissionais confiara ela o animal doente.
     O telefonema era baseado na encomenda que Dona Dulce fizera de um colchão de molas, ao gosto moderno, para uma afetuosa surpresa ao marido, e o rapaz que se achava no aposento íntimo do casal era, nem mais nem menos, o empregado da casa de móveis que viera ajustar o colchão referido ao leito de grandes proporções.

     A tragédia, porém, estava consumada e Dona Lequinha, diante do suicida exposto à visitação, comentou, baixinho, para a amiga de lado:
     - Que homem precipitado!... Morrer por uma bobagem! A gente fala certas coisas, só por falar!...

pelo Espírito Irmão X - Do livro:  Estante da Vida, Médium: Francisco Candido Xavier.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

35) O Programa Do Senhor (maravilhosa história!)

O Programa Do Senhor 
(maravilhosa história!)

     A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade dos circunstantes.
     O fenômeno maravilhara.
     O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.
     Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.
     Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.
     Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.
     Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria, soldados romanos e cameleiros do deserto, ali se congregavam em multidão, na qual se destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.

     O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o saboroso pão que resultara do milagre sublime.
     Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas e felizes dos apóstolos.
     E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno contemplava os seguidores, da eminência do monte.
     Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...

     Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.
     Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? 
     Não era o maior de todos os profetas? 
     Não seria o libertador da raça escolhida?
     Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel, espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a multidão, haver encontrado o restaurador de Israel. 

     Esclareceu que conviria receber-lhe as determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa, engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
     Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel não se fez rogado.
     – Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
     – Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.
     – Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio, dilatando o diálogo.
     – Em obrigações de trabalho para todos.
     O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e continuou:

     – Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
     – Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
     – Qual a função dos melhores?
     – Melhorar os piores.
     – E a ocupação dos mais inteligentes?
     – Instruir os ignorantes.
     – Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
     Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.
     – E o encargo dos ricos?
     – Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.

     – Mestre – tornou Malebel, desapontado – quem ditará semelhantes normas?
     – O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
     – E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
     – A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
     – Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?
     – Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e, sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem, com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no mundo.

     Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e, acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
     O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona dificilmente nos estômagos cheios, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão, naquela hora célebre, foi obrigado a descer também.

Pontos e Contos (psicografia Chico Xavier - espírito Irmão X) – Capítulo 1

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

34) Problema De Saúde (ótima mensagem... muito importante)

Problema De Saúde

     Comentávamos alguns problemas alusivos à saúde humana, quando Olímpio Ericeira, ex-médicona Terra, considerou:
     – Modifica-se singularmente o campo geral da vida, quando examinado através de nossos objetivos superiores. Sob o ponto de vista espiritual, renovam-se-nos aqui todos os conceitos clássicos da Medicina, em virtude das necessidades fundamentais da alma. 
     Com raríssimas exceções, toda enfermidade reflete as deficiências de natureza profunda. A rigor, não há patologia sem desequilíbrio psíquico, tanto quanto não existe flora microbiana sem clima adequado. Por isso mesmo, grande número de moléstias funcionam como elementos de socorro à inteligência reencarnada. 
     Claro que o homem não pode prescindir do combate contra as forças invasoras, no sentido de preservar o precioso vaso orgânico em que se
manifesta; entretanto, não deveria lutar com o pavor do sentenciado e sim com a atenção do trabalhador. A moléstia acidental pode ser aviso prestimoso; as enfermidades de longo curso costumam simbolizar trabalhos de salvamento; as enxaquecas, por vezes, demoram-se no corpo, atendendo a dispositivos da Providência Divina. 
     
     Se eu dispusesse de autoridade, solicitaria a todos os irmãos reencarnados aceitarem as manifestações patogênicas, dentro da maior serenidade, a fim de que produzam todos os bens de que são portadores.
     – Semelhante atitude, porém, é muito difícil! – observou Eduardo Lessa, outro médico desencarnado – o homem estima viver na filosofia do imediatismo. Exige melhora e cura, ao mesmo tempo, e é tarefa complicada atender a criaturas insaciáveis.
     – A opinião é justa – tornou Olímpio, em tom grave –, o imediatismo é o escolho com que somos invariavelmente defrontados, em todos os trabalhos de assistência aos companheiros da experiência física. Há doentes, com muitos anos de leito, que reclamam o restabelecimento em alguns dias, necessitados que não percebem os impositivos de ordem moral que os agrilhoam a padecimentos transitórios e pessoas que, intoxicadas pelos
escuros pensamentos que cultivam, não reconhecem as sombras da própria mente enfermiça.

     E refletindo para dar-nos um exemplo do que asseverava, continuou: 
     – Ainda agora, assisti a uma ocorrência significativa. Através dela observei, mais uma vez, que a pressa de curar, entre os que se movimentam na carne, pode agravar as doenças verdadeiras da alma.
     Olímpio fez uma pausa e prosseguiu :
     – A Senhora Ramos é criatura de qualidades excelentes, mas na posição maternal é apaixonada ao delírio, o que não impede seja credora de numerosas amizades em nosso plano, em virtude da sua bondade espontânea. Realmente, é caridosa sem ostentação e humilde sem alarde. Ninguém se retira da presença dessa nobre mulher sem sentir-se melhor. Sendo prestativa e fraternal, suas rogativas mobilizam muitos colegas nossos, que a ela se uniram pelos laços indestrutíveis da gratidão.
  
     Não há muitos meses, fui convidado a cooperar no tratamento de Anacleto, filho dessa valiosa missionária do bem. Dispus-me ao concurso solicitado, sondei o caso; depressa reconheci, em companhia de outros amigos, que a moléstia insidiosa deveria ser tratada com muita lentidão, em vista de ascendentes de origem moral. Anacleto apresentava perturbações orgânicas facilmente remediáveis; no entanto, a sua personalidade real exibia
enormes desequilíbrios. Era ele um viciado de renovação muito difícil.

     O médico da família tratava-o, com acerto; entretanto, a mente transviada do rapaz exigia provas rudes.
     A Senhora Ramos vivia receosa. Temia pela saúde do filho e desejava, fervorosamente, a restauração imediata. Todavia, se o facultativo terrestre apressava recursos para o fim em vista, de nosso lado acentuávamos a delonga. Não devia o moço restabelecer-se com facilidade. Tal concessão seria perigosa. Anacleto precisava extrair todo o proveito que a enfermidade lhe poderia conferir e devia socorrer-se da colaboração de muitos amigos
encarnados, para entender, de alguma sorte, as obrigações que lhe competiam. 
     As reflexões do leito ser-lhe-iam benéficas. O fígado enfermo, o estômago escoriado e as pernas feridas lhe ensinariam, sem palavras, valiosas lições íntimas. No curso do tempo, fornecer-lhe-iam paciência, fraternidade, gratidão e, sobretudo, algum entendimento da vida. Até à ocasião em que se recolhera para tratamento rigoroso, não passava de criatura inútil. Gastava a mocidade entre arruaças e vícios.

     Não sabia agradecer e muito menos cooperar na extensão do bem. Todavia, em virtude da moléstia renitente, começava a ser afável e reconhecido. Já sabia como atender a visitas, como suportar uma conversação em que os seus pontos de vista não eram respeitados e aprendera a sorrir para pessoas menos simpáticas.
     A Senhora Ramos, porém, qual ocorre à maioria das mães terrestres, não examinava a situação fora das inquietudes injustificáveis. Acomodava-se muito bem com a fé tranqüila dos dias róseos, mas não compreendia a confiança nos dias escuros.
     Implorava a restituição imediata da saúde ao filho e consagrava-se apaixonadamente a essa idéia. 
     
     De quando em quando, encontrávamo-nos no grupo espiritista, através da organização mediúnica. Expunha-nos, inquieta, as suas aflições e temores.
– Guarde serenidade, minha irmã – repetíamos, invariavelmente –, Anacleto há de curar-se; em qualquer tempo, mais vale atentar para a Vontade de Deus que nos encarcerarmos nos próprios desejos, quase sempre filiados à desorientação e ao egoísmo. Aguardemos com calma.
     Nossa amiga, no fundo, pretendia sustentar o elevado padrão de fé, mas acabava sempre em vacilações prejudiciais, dentro do labirinto afetivo.
De nossa reunião espiritual, seguia para a discussão com o médico, no conforto da residência, reclamando remédios mais eficientes, melhoras seguras e resultados mais nítidos.

     Assediado pelas rogativas da genitora, o facultativo encarnado lembrou a oportunidade de uma estação de águas. Anacleto iria às fontes curativas e, certo, restauraria o fígado intoxicado.
     Consultou-nos a Senhora Ramos, com respeito ao alvitre.
     Sabíamos que a medida, em nos reportando ao campo físico, seria excelente, que o rapaz encontraria alívio rápido; no entanto, não ignorávamos que a sua condição espiritual ainda era lamentável, e que, por isso mesmo, o rapaz não se habilitara à recepção daquela bênção. Não víamos tão-somente o organismo enfermo, mas também os interesses vitais da saúde eterna.    
     Examinando todos esses fatores, opinamos em contrário. A pobre mãe
recebeu-nos a negativa, mal-humorada, e, após novo acordo com o clínico terreno, assentou que nós outros, os cooperadores espirituais, estacionáramos em equívoco, deliberando a partida do filho para as águas, sem perda de tempo, plenamente despreocupada de nossa lembrança fraternal.

     Em poucos dias, viu-se Anacleto em estação elegante.
     A essa altura da narrativa, Olímpio fez longa pausa, como a exumar as reminiscências mais fortes e concluiu:
     Efetivamente, o rapaz, em duas semanas, estava quase radicalmente curado. A Senhora Ramos não cabia em si de contente. Anacleto, porém, assim que se viu exonerado dos impedimentos físicos, não mais quis saber das edificantes palestras maternais. Não longe do balneário funcionava grande seção de jogos de azar que, de pronto, lhe fascinaram a mente
doentia. Incapaz de procurar o entretenimento sadio, útil ao sistema nervoso enfermiço, atirou-se ao pano verde, desvairadamente, tomado de estranha sede. Ocultando-se à vigilância materna, durante oito noites sucessivas aventurou somas enormes. 

     Quando perdeu o conteúdo da própria bolsa, valeu-se de dois cheques em branco que o pai havia confiado à genitora, devidamente assinados, para despesas eventuais na excursão de cura.
     Fez dois saques vultosos, mas perdeu irremediavelmente. Quando viu rolar a ficha derradeira, ausentou-se, alucinado; enceguecido, semi-louco, não conseguiu registrar-nos a assistência espiritual e, a sós, no quarto de dormir, ralado de ódio e vergonha, suicidou-se estourando o crânio. E assim terminou a experiência. 
     A Senhora Ramos retirou-se de casa conduzindo um filho doente e regressou trazendo um cadáver.

Pontos e Contos Capítulo 11 (psicografia Chico Xavier - espírito Irmão X)


domingo, 20 de outubro de 2013

32) Conforme o modo como vemos a vida (excelente mensagem... vale a pena lêr)





Conforme o modo como vemos a vida, podemos abrandar ou agravar os nossos sofrimentos

     Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no seu capítulo V, “Bem-Aventurados os Aflitos”, item 13, Allan Kardec afirma que, conforme a maneira de ver a vida, nós podemos abrandar ou agravar os nossos próprios sofrimentos.

     Um exemplo bem claro disso aconteceu em nossa clínica há alguns anos.     
     Uma senhora aparentando ser portadora de um equilíbrio incomum dirigiu-se a nós dizendo precisar de nosso concurso terapêutico, como médico e homeopata, mas que talvez nós não fôssemos capazes de compreender o que ela sentia.

     Pedimos que tentasse nos explicar e assim ela começou a relatar:

    “Sou evangélica, trabalho como missionária, estudo a Bíblia há muitos anos e tenho uma fé inabalável em Deus. Estou falando isso para que você compreenda o que eu pretendo relatar.

     Há quatro anos meu filho foi atingido por uma bala perdida e faleceu. Em nenhum momento, questionei os desígnios divinos.

     Não sofro por ele ter partido assim tão subitamente. Na verdade, nem acredito que tenha vindo aqui por causa de algum sofrimento. E é por isso que penso que você terá dificuldade para entender o que vim relatar. Não vim até aqui por sofrer, mas por estar cheia de amor por meu filho e não saber como dar vazão a esse sentimento”.

     Nesse momento, perguntamos a ela como ela via, como evangélica e missionária, a questão da morte. Onde estaria a alma de seu filho nesse momento?

     E ela me respondeu: “Dormindo o sono eterno ao lado de Deus, aguardando o Juízo Final”.

     Imediatamente percebemos estar diante de uma dor causada pela forma com que ela via a questão do destino do Espírito após a morte do corpo físico.

     Como médico cristão, jamais poderíamos alterar sua forma de crer, não seria ético. Então, como ajudar?

     Nessa hora, tivemos uma intuição e lhe perguntamos: “Minha irmã, quando seu filho dormia, na cama ao lado de seu quarto, você não podia amá-lo?”

     Ao que ela respondeu:  “Muito! Não raras vezes eu me dirigia ao seu quarto, olhava demoradamente para ele e deixava que meu amor o envolvesse”.

     Então, redargui: “Mas, minha senhora, ele estava dormindo...!”.

     Ela, imediatamente, replicou: “Mas eu sei que ele me sentia...”.

     Então, concluí meu raciocínio para tentar mudar o conceito daquela mulher:  “Então, minha irmã, se ele, dormindo ali ao seu lado, a senhora acreditava que ele podia senti-la, eu não entendo por que agora, que ele dorme ao lado de Deus, ele não registraria seu amor”.

     Naquele momento, a expressão facial dela mudou completamente, como se um brilho novo iluminasse seu olhar. E ela, sem perceber, exclamou em voz alta: “Meu Deus, por que não pensei nisso antes”. E se levantou e saiu, como se nem tivesse estado ali. Mas, imediatamente após passar a porta do consultório, ela voltou, olhou-me ternamente e me disse: “Obrigada, muito obrigada”.

     E se foi... Nunca mais a vi.

     Naquele momento pensamos na imensa sabedoria de Allan Kardec quando nos apresentou esse raciocínio: “Conforme a maneira de ver a vida o indivíduo pode abrandar ou agravar seus próprios sofrimentos”.
  

                                                            José Antonio Vieira de Paula
http://www.forumespirita.net/fe/accao-do-dia/conforme-o-modo-como-vemos-a-vida-podemos/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+forumespirita+%28Forum+Espirita+email+news+100+topicos%29#.UXSr1NKG3Cs

sábado, 19 de outubro de 2013

31) ¿No crees en la reencarnacion? Entonces trata de explicar esto.(maravilhoso!)Você não acredita em reencarnação? Então, tentar explicar isso!




¿No crees en la reencarnacion? 
Entonces trata de explicar esto.
(Você não acredita em reencarnação?
Então, tentar explicar isso.)

enviado para o YouTube por - 
Julio Cesar Contreras de León
Publicado em 16/10/2013

Se trata de Tsung Tsung. 
Tiene 5 años y aún es un misterio como es posible que logre hacer esto con tan corta edad.
(Se trata de Tsung Tsung.
Tem 5 anos e ainda é um mistério como você pode ser capaz de fazer isso com uma idade tão jovem.)


30) Aprender A Florescer (ótima história)



     Aprender A Florescer          
      Ela era uma jovem das famílias mais ricas de Los Angeles. Prestes a se casar, seu noivo foi convocado para o Vietnã. Antes, deveria passar por um treinamento de um mês.           
     Enamorada, ela optou por antecipar o casamento e partir com ele. Ao menos poderia passar o mês do treinamento próximo dele, antes de sua partida para terras tão longínquas e perigosas.
          Próximo à base do deserto da Califórnia onde se daria o treinamento, havia uma aldeia abandonada de índios Navajos e uma das cabanas foi especialmente preparada para receber o casal.
          O primeiro dia foi de felicidade. Ele chegou cansado, queimado pelo sol de até 45 graus. Ela o ajudou a tirar a farda e deitar-se. Foi romântico e maravilhoso.

          Ao final da semana estava infeliz e ao fim de dez dias estava entrando em desespero. O marido chegava exausto do treinamento que começava às cinco horas da manhã e terminava às dez horas da noite. Ela era viúva de um homem vivo, sempre exaurido.  Escreveu para a mãe, dizendo que não agüentava mais e perguntando se deveria abandoná-lo.
          Alguns dias depois, recebeu a resposta. A velha senhora, de muito bom senso lhe enviou uma quadrinha em versos livres que dizia mais ou menos assim:
            "- Dois homens viviam em uma cela de imunda prisão. Um deles olhava para o alto e enxergava estrelas. O outro, olhava para baixo e somente via lama. Abraços. Mamãe."

          A jovem entendeu. Ela e o marido estavam em uma cela, cada um a seu modo. Ver as estrelas ou contemplar a lama era sua opção.
          Pela primeira vez, em vinte dias de vida no deserto, ela saiu para conhecer os arredores. Logo adiante surpreendeu-se com a beleza de uma concha de caracol. Ela conhecia conchas da praia, mas aquelas eram diferentes, belíssimas.
          Quando seu marido chegou naquela noite, quase que ela nem o percebeu tão aplicada estava em separar e classificar as conchas que recolhera durante todo o dia. Quando terminou o treinamento e ele foi para a guerra, ela decidiu permanecer ali mesmo.
           Descobrira que o deserto era um mar de belezas.
          De seus estudos e pesquisas resultou um livro que é considerado a obra mais completa acerca de conchas marinhas, porque o deserto da Califórnia um dia foi fundo de mar e é um imenso depósito de fósseis e riquezas minerais.

          Mais tarde, com o retorno do esposo do Vietnã, ela voltou a Los Angeles com a vida enriquecida por experiências salutares. Tudo porque ela aprendera a florescer onde Deus a colocara.
          Existem flores nos jardins bem cuidados. Existem flores agrestes em pleno coração árduo do deserto.
          Existem flores perdidas pelas orlas dos caminhos, enfeitando veredas anônimas.
          Muitas sementes manifestam sua vida florescendo a partir de um pequeno grão de terra, perdido entre pedras brutas, demonstrando que a sabedoria está em florescer onde se é plantado.
          Florescer, mesmo que o jardineiro sejam os ventos graves ou as águas abundantes.
          Florescer, ainda que e as condições de calor e umidade nem sempre sejam as favoráveis...

     Texto extraído da: Redação do Momento Espírita, com base na palestra “Floresça Onde Fôr Plantado”, proferida por Divaldo Pereira Franco.... Em 17/07/2009 momento.com.br

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

29) A Felicidade Não É Deste Mundo (ótimo!)


A Felicidade Não É Deste Mundo 

     20. "- Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim!..." exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. 
     Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes:
     -  "A felicidade não é deste mundo." 
     Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.
     Diante de tal fato, é incontestável que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna.      
     Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações.
     Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.
     Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. 
     
     Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
     O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.
     Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. 

     Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados.
     Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
     Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. 

     Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra... felicidade. 
- François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)

do livro “Evangelho Segundo O Espiritismo” capítulo V, item 20

28) No Caminho Do Amor (bela hitória! vale a pena lêr!)


No Caminho Do Amor
        Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólicos sorriso, e fixou-o estranhamente.
     Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva; colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
    
      - Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas... Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:
     -Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida.
     - E' que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso ... Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...

     Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:
     - Jovem, porque não respondes? Descobri em teus olhos diferentes chama e assim procedo,... por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende!... Atende!...
     Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou uma tanto agastada:
     -Não virás?
     Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:      - Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!...
     A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.

     Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento. O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
     Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemido angustioso.
    A disputada mercadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
     Fitou o Mestre e reconheceu-o. Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime, e atraente expressão. O Cristo estendeu-lhe os braços, tocados de intraduzível ternura e convidou:
     
     - Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
      A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.
     O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e conchegou-a, de manso...
     A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida:
     - Tu?... O Messias nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que viste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
     Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
     - Agora, venho satisfazer-te os apelos. E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
     - Descubro em teus olhos diferentes chama, e assim procedo,... por amar-te...

do livro Contos e Apólogos (Irmão X) Psicografia Francisco Cândido Xavier

terça-feira, 15 de outubro de 2013

27) Perda De Pessoas Amadas. Mortes Prematuras (ótimo)


                       Perda De Pessoas Amadas.Mortes Prematuras              
         
      21. Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem estrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer:
          - Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria.
     - Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino.      Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis?       Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano.

     Crede-me, a morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes do tempo embranqueçam os cabelos dos pais.
       Freqüentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo na Terra.
     É uma horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar, abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se acima da matéria. 
     Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras? 
     Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados?

     Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo.
       Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus.
    
      Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.

  - Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.)
do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" capítulo 5, ítem 21.

26) Causas Anteriores Das Aflições (Ótimo) parte 3


Causas Anteriores Das Aflições
     6. Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade.       Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
    
     Os que nascem nessas condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois, seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são
favorecidos de todos os modos?
     Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos? 
     Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes na Terra.

       Que fizeram essas almas, que acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas misérias e para merecerem no futuro urna recompensa ou uma punição qualquer, visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?
     Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente.
       Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. E uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus.

     O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer:      - 'Perdoa-me, Senhor, porque pequei."

     7. Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.
     Assim se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência, porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente.

       Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.
     Jamais deve o homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este, trabalhando por se melhorar.

     8. As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente.      Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha
deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta.
    
      9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação.
       Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta.
       Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as
possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus.
     Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.
     
     10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam.
       São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. 
     Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura. Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.

  do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" Capítulo V ítens 6, 7, 8, 9 e 10                                                                                        (Allan Kardec)

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