quarta-feira, 21 de maio de 2014

53) O Ferreiro Intransigente (ótima história)

O Ferreiro Intransigente
     Comentávamos o problema da compaixão, quando se abeirou de nós antigo orientador e narrou, bem humorado:
¯   - Conheci um caso interessante na Idade Média. 
     - Em que pequenina aldeia do Velho Mundo que os séculos já transformaram, jovem ferreiro apaixonou-se pelo rigor da justiça.
     Integrando certa facção política, considerava todas as pessoas que lhe não esposassem os pontos de vista por inimigos a combater.
     Atrabiliário e sectarista, imaginava os mais difíceis processos de perseguição aos adversários. A tolerância representava para ele grave delito.       
     Se alguém não rezasse por sua cartilha, ficava assinalado a ponto escuro.      Disposto a contendas, embora a posição humilde que desfrutava, sabia complicar a situação dos desafetos, urdindo intrigas e ciladas contra eles.
     Assim é que, certa feita, procurou o juiz que regia a comuna com benevolência e equidade e propôs-lhe a reconstrução do cárcere. A enxovia desmoronava-se.
     Qualquer malfeitor provocava facilmente a evasão. As grades frágeis cediam ao assalto de qualquer um. Impossível o trabalho da detenção. Era necessário sustar o insulto à polícia.

     Oferecia-se, desse modo, para sanar o problema. Daria novo aspecto ao cubículo. Prisão que fosse prisão.
     O magistrado, velho experiente e bondoso, observou:
¯      - Meu filho, a justiça deve ser exercida com amor, para que se não converta em crueldade, porque lá vem um dia em que precisamos ser justiçados por nossa vez.
     O moço,porém, insistiu. A cadeia menosprezada não merecia respeito.
     Tanto reclamou que atingiu o objetivo a que se proponha.

     Recebendo a concessão para reformar o cárcere,esmerou-se quanto pôde. Deu nova feição às grades. Criou um sistema de cadeados, pelo qual era impossível a escapatória. E no centro do acanhado recinto levantou pesada coluna de ferro, com algemas laboriosamente trabalhadas, impedindo a movimentação de quem fosse jungido a semelhante pelourinho.
     A idéia foi bem sucedida. O serviço revelou-se tão eficiente que o jovem artífice foi procurado por autoridades de outros recantos e larga prosperidade abriu-lhe as portas. A novidade ofereceu-lhe fama e fortuna.

     Durante vinte anos, coadjuvado por operários diversos, o nosso ambicioso amigo fabricou prisões para numerosas cidades do seu tempo. Senhor de vasto patrimônio material, transferiu residência do vilarejo provinciano para grande metrópole e, certa noite supondo defender-se, cometeu leve falta que inimigos gratuitos se incumbiram de solenizar.
     O antigo ferreiro foi preso, de imediato. Internado, mentalizou a ajuda de companheiros que o auxiliassem na fuga, mas, assombrado, reconheceu, pela marca dos ferros, que fora trancafiado num cárcere de sua própria fabricação, sofrendo rigorosa pena que, começando por acabrunhá-lo, acabou por infligir-lhe a morte.

     Terminada a história rápida, fixou-nos de maneira expressiva e rematou:
¯   - Somente a compaixão pode salvar-nos, soerguendo-nos do abismo de nossas próprias faltas. Qualquer punição extremada que receitarmos para os outros será como a prisão do ferreiro intransigente. Os laços que armarmos contra o próximo serão inevitável flagelo para nós mesmos.
     Logo após, sem dar-nos tempo para qualquer indagação, sorriu com serenidade e seguiu adiante.

Do livro - Contos Desta e Doutra Vida (psicografia Chico Xavier - espírito Humberto de Campos)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

52) PROPRIEDADE (excelente mensagem)



PROPRIEDADE (excelente mensagem)


“E o mancebo, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía
muitas propriedades.” — (MATEUS capítulo 19, versículo 22.)

     O instinto de propriedade tem provocado grandes revoluções,
ensangüentando os povos. Nas mais diversas regiões do planeta respiram
homens inquietos pela posse material, ciosos de suas expressões temporárias
e dispostos a morrer em sua defesa.

     Isso demonstra que o homem ainda não aprendeu a possuir.
     Com esta argumentação, não desejamos induzir a criatura a esquecer a
formiga previdente, adotando por modelo a cigarra descuidosa. Apenas
convidamos, a quem nos lê, a examinar a precariedade das posses efêmeras.
Cada conquista terrestre deveria ser aproveitada pela alma, como força de
elevação.

     O homem ganhará impulso santificante, compreendendo que só possui
verdadeiramente aquilo que se encontra dentro dele, no conteúdo espiritual de sua vida. 
     Tudo o que se relaciona com o exterior — como sejam: criaturas,
paisagens e bens transitórios — pertence a Deus, que lhos concederá de
acordo com os seus méritos.

     Essa-realidade sentida e vivida constitui brilhante luz no caminho,
ensinando ao discípulo a sublime lei do uso, para que a propriedade não
represente fonte de inquietações e tristeza, como aconteceu ao jovem dos
ensinamentos de Jesus.

do livro Caminho, Verdade e Vida Emmanuel (psicografia Francisco Cândido Xavier)

sábado, 10 de maio de 2014

51) Livro Nosso Lar






Livro Nosso Lar



50) Jesus E Simão (ótima história)


Jesus E Simão (ótima história)

     Retirava-se Jesus do lar de Jeroboão, filho de Acaz, em Corazim, para atender a um pedido de socorro em casa próxima, quando quatro velhos publicanos apareceram, de chofre, buscando-lhe o verbo reconfortante.
     Haviam recebido as notícias do Evangelho do Reino, tinham fome de esclarecimento e tranqüilidade, suplicavam palavras que os auxiliassem na aquisição de paz e esperança.
     O Mestre contemplou-lhes a veste distinta e os rostos vincados de funda inquietação, e compadeceu-se.
     Instado, porém, por mensageiros que lhe requisitavam a presença à Excelso Benfeitor chamou Simão Pedro e pediu-lhe, ante os consulentes amigos:
     
     - Pedro, nossos irmãos chegam à procura de renovação e de afeto... Rogo sejas, junto deles, o portador do Bem Eterno!... Ampara-os com a verdade, prossigamos em nossa tarefa de amor...
     O apóstolo relanceou o olhar pelos circunstantes e, tão logo se viu a sós com eles, fêz-se arredio e casmurro, esperando-lhes a manifestação.
     Foi Eliúde, o joalheiro e mais velho dos quatro, que se ergueu e solicitou com modéstia:
     - Discípulo do Senhor, ouvimos a Nova Revelação e temos o espírito repleto de júbilo!...
     Compreendemos que o Messias Nazareno vem da parte do Todo-Poderoso arrancar-nos da sombra para a luz, da morte para a vida... Que instruções e bênçãos nos dás, oh! dileto companheiro das Boa Novas? Temos sede do reino de Deus que o Mestre anuncia!
     
     - Aclara-nos a inteligência, guia-nos o coração para os caminhos que devemos trilhar!...
     Simão, contudo, de olhar coruscante, qual se fora austero zelador de consciências alheias, brandiu violentamente o punho fechado sobre a mesa, e falou, ríspido:
     - Conheço-vos a todos, oh! víboras de Coramim!...
E, apontando o dedo em riste para Eliúde, aquele mesmo que tomara a iniciativa do entendimento, acusou-o, severamente:
- Que pretendes aqui, ladrão das viúvas e dos órfãos? Sei que ajuntaste imensa fortuna à custa de aflições alheias. Tuas pedras, teus colares, teus anéis!... que são eles senão as lágrimas cristalizadas de tuas vítimas? Como consegues pronunciar o nome de Deus?...
     
     Voltando-se para o segundo, na escala das idades, esbravejou:
     - Tu, Moabe? A que viestes? Ignoras, porventura, que não te desconheço a miséria moral? Como te encorajaste a vir até aqui, após extorquir os dois irmãos, de quem furtaste os bens deixados por teu pai? Esqueces de que um deles morreu consumido de penúria e de que o outro enlouqueceu por tua causa, sem qualquer recurso para a própria manutenção?
     Em seguida, dirigiu-se ao terceiro dos circunstantes:
     - Que buscas, Zacarias? Não te envergonhas de haver provocado a morte de Zorobatel, o sapateiro, comprando-lhe as dívidas e atormentando-o, através de execráveis cobranças, no só intuito de roubar-lhe a mulher? Já tens o fruto de tua caça. Aniquilaste um homem e tomaste-lhe a viúva... Que mais queres, infeliz?

     E, virando-se para o último, gritou:
     - Que te posso dizer, Ananias? Há muitos anos, sei que fazes o comércio da fome, exigindo que a hortaliça e o leite subam constantemente de preço, em louvor de tua cupidez... Jamais te incomodaste com as desventuradas crianças de teu bairro, que falecem na indigência, à espera de tua caridade, que nunca apareceu!...
     Simão alçou os braços para o teto, como quem se propunha irradiar a própria indignação, e rugiu:
- Súcia de ladrões, bando de malfeitores!... O Reino de Deus não é para vós!...
     Nesse justo momento, Jesus reentrou na sala, acompanhado de alguns amigos, e, entendendo o que se passava, contemplou, enternecidamente, os quatro publicanos arrasados de lágrimas, ao mesmo tempo que se abeirou do pescador amigo, indagando:
     
     - Pedro, que fizeste?
Simão, desapontado à frente daqueles olhos cuja linguagem muda tão bem conhecia, tentou justificar-se:
     - Senhor, tu disseste que eu deveria amparar estes homens com a verdade...
     - Sim, eu falei “amparar”, nunca te recomendaria aniquilar alguém com ela...
     Assim dizendo, Jesus aceitou o convite que Jeroboão lhe fazia para sentar-se à mesa e, sorrindo, insistiu com Eliúde, Moabe, Zacarias e Ananias para que lhe partilhassem a ceia.
     Organizou-se, para logo, bela reunião, na qual o verbo se mostrou reconfortante e enobrecido.

     Conversando, o Mestre exaltou a Divina Providência de tal modo e se referiu ao Reino de Deus com tanta beleza, que todos os comensais guardavam a impressão de viver no futuro, em prodigiosa comunhão de interesse e ideais.
     Quando os quatro publicanos se despediram, sentiam-se diferentes, transformados, felizes...
     Jesus e Simão retiraram-se igualmente e, quando se acharam sozinhos, passo a passo, ante as estrelas da noite calma, o rude pescador exprobrou o comportamento do Divino Amigo, formulando perguntas, através de longos arrazoados.

     Se era necessário demonstrar tanto carinho para com os maus, como estender auxílio aos bons? Se os homens errados mereciam tanto amor, que lhes competia fazer, a benefício dos homens retos?
     O Cristo escutou as objurgações em silêncio e, quando o aprendiz calou as derradeiras reclamações, respondeu numa frase breve:
     
     - Pedro, eu não vim à Terra para curar os sãos...

do livro - Estante da Vida - Irmão X - (psicografia de Francisco Cândido Xavier) 


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